domingo, 3 de fevereiro de 2013

"Fringe": o início próspero, o meio fantástico, e o fim ingrato


Chegava ao fim no último dia 18 de janeiro, nos EUA, uma das séries de ficção científica mais originais e importantes dos últimos anos: “Fringe”. Criada por J.J. Abrams, Alex Kurtzman e Roberto Orci (responsáveis pelo reboot cinematográfico de “Star Trek”), “Fringe” estreou em 2008 com a difícil missão de conquistar o público de “Lost”, série mais famosa no currículo de Abrams que chegaria ao fim em 2010. Trazendo uma interessante e bem dosada mistura de casos bizarros, mistérios, drama familiar e até comédia, “Fringe” não demorou a conquistar o público órfão de séries como “Arquivo X” e “Battlestar Galactica”. 

Por falar em “Arquivo X”, não há como não fazer um paralelo entre esta e “Fringe”, uma vez que ambas trazem uma abordagem parecida: agentes do FBI investigando casos paranormais. Mas as semelhanças param aí. Enquanto “Arquivo X” misturava mitologias díspares envolvendo alienígenas, fantasmas, monstros, robôs e etc, “Fringe” sempre se focou em casos envolvendo experiências científicas um tanto quanto “possíveis”. Entrava em cena então o cientista louco Walter Bishop (John Noble) e seu filho Peter (Joshua Jackson), recrutados pela agente Olivia Dunham (Anna Torv) para resolver esses casos.

Confesso que, inicialmente, “Fringe” não me atraiu muito, mesmo com os excelentes “casos da semana”. A total ausência de conexão emocional com os personagens (à exceção de Walter, cuja excentricidade sempre foi uma das melhores coisas na série) foi um dos motivos que me fizeram abandoná-la ao final da primeira temporada – um erro que eu viria a corrigir dois anos depois, quando a terceira (e magnífica) temporada arrancava cada vez mais elogios do público. Mas já era tarde: muitos, assim como eu, já haviam abandonado a série, que amargava uma audiência cada vez menor.

O grande diferencial da terceira temporada de “Fringe” foi a apresentação de um universo alternativo em que existiam “outras versões” dos personagens, que viriam a ser conhecidos pelos fãs como Walternativo (uma versão mais séria de Walter) e Bolivia (uma Olivia mais durona e menos séria, que serviu para finalmente mostrar o talento de Anna Torv). Tais personagens, assim como uma intrincada trama envolvendo ambos os universos, e a resolução de alguns mistérios que vinham sendo desenvolvidos desde a primeira temporada, fizeram desta temporada não apenas a melhor da série, mas uma das melhores entre todas as séries do gênero.

Mas infelizmente, “Fringe” não conseguiu manter essa excelência por muito tempo. Mesmo com as versões alternativas e ainda apresentando episódios acima da média das demais séries sci-fi, a quarta temporada (que só chegou a acontecer por algum milagre por parte dos executivos do canal Fox) frustrou muitos fãs por apresentar soluções fáceis para alguns mistérios (nunca superarei o episódio do amor) e um final que soava um tanto quanto forçado dentro da proposta da série, quando o grande vilão William Bell (Leonard Nimoy, o eterno Spock da “Star Trek” clássica) finalmente revelou seus planos de dominação universal.

A luz divina que iluminava os executivos da Fox continuava a exercer seu poder, e “Fringe” foi renovada para sua quinta e última temporada, quando a série chegaria em seu 100° episódio e assim poderia ser vendida a outros canais para reprise, dando lucros para a produtora. Como o final da quarta temporada apresentava também um final (mesmo que fraco) para a história proposta na série, a saída encontrada pelos roteiristas para a quinta temporada foi desenvolver uma nova história, ocorrida anos depois, quando os seres conhecidos como Observadores controlavam nosso mundo e a equipe voltava a ativa em um plano para impedí-los.

A trama era simples e poderia ter se desenvolvido numa quantidade menor de episódios ou mesmo num telefilme, mas a enrolação ao longo de 13 episódios acabou tornando tudo muito arrastado. O drama de Olivia e Peter pela perda da filha não convenceu, a transformação de Peter em Observador e sua subseqüente “destransformação” serviram apenas para encher lingüiça, e o final, com tudo voltando para o exato lugar em que a quarta temporada havia terminado, deu a sensação de que essa temporada apenas não deveria ter existido. Para não parecer que tudo foi tão horrível, as cenas de Walter (tanto cômicas quanto dramáticas) continuavam certeiras, e a cena do último episódio em que vários casos da série retornam para ajudar a deter os Observadores foi uma bela surpresa aos fãs que persistiram até o final.

Mas apesar desses problemas, “Fringe” continua uma das melhores e mais relevantes séries de ficção científica dos últimos anos (em minha opinião, melhor até que “Battlestar Galactica”), que apresentou momentos maravilhosos e sem dúvida merecia um final menos ingrato.

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